Nesta temporada, segmento investiu mais de R$ 3,5 bilhões no futebol brasileiro e teve alta de 140% no número de empresas.
O setor de apostas no Brasil segue em crescimento desde que foi legalizado em 2018. Após consolidação do segmento no país, a proposta de regulamentação enfim passou por aprovação no senado e, na última quinta-feira, 21, voltou à câmara, onde novamente teve o aval positivo.
O texto, que também determina a tributação às empresas e aos ganhos dos apostadores, era uma das apostas do Governo para aumentar a arrecadação para 2024, devido às altas cifras que circulam no mercado. Já no início de 2023, por exemplo, as expectativas de faturamento do setor eram de R$ 12 bilhões no Brasil, número que já representaria um aumento de 71% em relação aos R$ 7 bilhões faturados em 2020, conforme dados do BNL Data.
Já no decorrer do ano, novos estudos destacaram a crescente relevância econômica do segmento: em abril, o Governo Federal estimou que as apostas esportivas gerassem R$ 3 Bilhões ao futebol, entre acordos para patrocínios e publicidade em camisas de times, placas de campeonatos e espaços na mídia. Hoje, novos números indicam que o valor está na casa dos R$ 3,5 bilhões.
“Os números alcançados pelas companhias de apostas neste ano não foram por acaso. Mostram a crescente de um setor que vem amadurecendo cada vez mais nos últimos anos, e que já se destaca, por exemplo, como o principal financiador do futebol brasileiro. O segmento vem cada vez mais fazendo parte do cotidiano das e pessoas e acaba, inclusive, impulsionando a economia nacional, devido às cifras que é capaz de movimentar”, avalia o especialista no mercado de apostas Cristiano Maschio, CEO da Qesh.
Já Hans Scheiler, COO da Casa de Apostas, ressalta a relação estabelecida entre o setor de betting e o esporte: “O mundo do futebol e as companhias de apostas destacam-se como grandes aliados comerciais. E acredito que a tendência é a expansão cada vez maior da popularidade do segmento, principalmente após a regulamentação da prática. Visualizamos um futuro muito promissor para o mercado brasileiro e buscamos sempre gerar novas experiências ao torcedor, com ações que nos aproximem do público”.
Neste ano, somente em patrocínios às equipes da série A, por exemplo, as cifras fornecidas pelas ‘bets’ chegavam na casa dos R$ 330 milhões anuais, na soma de todos os 19 dos 20 clubes que mantêm acordos com empresas do ramo. Já entre os campeonatos, as casas de apostas patrocinaram importantes competições, como Brasileirão (Galera.bet), Supercopa do Brasil (Betano), Copa do Brasil (Betano e Betnacional), Campeonato Paulista (Esportes da Sorte, Betano, Betnacional e Parimatch), Copinha (Esportes da Sorte) e Campeonato Carioca (Betnacional e Betano). Na TV, por sua vez, o Esportes da Sorte fechou cotas de publicidade para as transmissões da Globo na Libertadores em 2023.
Especialista em marketing esportivo e CEO da Heatmap, Renê Salviano também avalia que esta crescente presença das empresas do setor de betting no país tornou-se um atrativo financeiro, em substituição às saídas dos bancos, que deixaram de patrocinar as principais equipes do país. “A indústria das apostas tem grande potencial para impulsionar o futebol brasileiro. Essas companhias chegaram para preencher uma lacuna em muitos clubes, com perda de receitas devido ao período de escassez, durante os dois anos de pandemia”, comenta.
Além da crescente presença no âmbito esportivo, a alta dos patrocínios neste mercado também se traduz pelo aumento do volume de apostas e das cifras movimentadas. Entre janeiro e julho deste ano, por exemplo, dados do Banco Central e compilados pelo Aposta Legal Brasil, revelaram que os brasileiros gastaram em torno de R$ 33,5 bilhões em sites de apostas no exterior. O número equivale a 13 vezes o valor registrado no mesmo período em 2022, quando a quantia apostada foi em torno de R$ 2,5 bilhões.
Nesse cenário, também destacam-se dados do Datahub que apontam alta do número de empresas de apostas abertas no Brasil, de 135% entre 2022 e 2023, com a abertura de 221 novas companhias até agosto deste ano, contra 94 no ano anterior, no mesmo período.
Também em agosto, estimativas da Gmattos Consultoria apontaram que o mercado de apostas poderia movimentar até R$ 115 bilhões no Brasil durante o ano, em estudo baseado na evolução do setor em 2022 e em dados dos dois primeiros trimestres deste ano. A consultoria ainda apontou que o pix foi um dos elementos responsáveis por impulsionar o crescimento das apostas durante o ano, com indicação de que 100% dos principais players do segmento operavam dessa forma para receber os depósitos.
O setor de apostas ainda se destacou como um dos principais anunciantes da TV brasileira. A principal alta veio no terceiro trimestre deste ano, com aumento de 37% das inserções televisivas das casas de apostas em publicidade na TV, em comparação com o primeiro trimestre de 2023. Os dados são de estudo da Tunad, empresa especializada em análises de mídia e publicidade, e que também aponta que mais de 88 mil anúncios foram desenvolvidos pelas “bets” em 2023.
Em meio à crescente dos anúncios, e a obrigatoriedade do estímulo ao jogo responsável definida em meio ao processo de regulamentação no Brasil, Marcos Sabiá, CEO do galera.bet, também ressalta a importância do estímulo ao jogo consciente: “Acreditamos que a indústria não deva tolerar qualquer tipo de compulsão. E é essencial que esse combate não se restrinja apenas às casas de apostas que se preocupam com a questão. A discussão deve ser um tema de importância abrangente para toda a indústria”.
Matéria: Exame